Gruta Do Tamboril
ESTUDO DA EVOLUÇÃO DOS CORALÓIDES BOTRIOIDAIS DA
GRUTA TAMBORIL, UNAÍ, MINAS GERAIS
José Adilson Dias CAVALCANTI – SEE UFOP.
Cláudio Maurício TEIXEIRA DA SILVA – Prof. UFOP.
Resumo
O estudo dos coraló
des botrioidais através de lâminas delgadas nos mostra que os mesmos se apresentam
diversas fases na sua evolução genética caracterizadas por morfologias típicas. Estas tipificam sua gênese em
função do ambiente de formação. No caso estudado, 2 fases maiores podem ser individualizadas
caracterizando um crescimento por exsudação intersticial e posteriormente por inundação e respingamento.
Palavras-Chave: coralóides; modelo evolutivo; gênese
INTRODUÇÃO
As formas coralóidais incluem uma coleção
de diversos depósitos nodulares, globulares,
botrióidais ou mesmo em forma de coral. Alguns
compostos inteiramente de crescimentos de calcita
em leitos sucessivos a partir de projeções menores e
parecem estar relacionados à lâminas de água,
supersaturadas, de movimento rápido (White, 1988).
Nomes coloquiais para os diferentes tipos imagem
morfológicos são "popcom", "grapes", "knobstone",
"coral", "clusterites", "globularites", "botrioids",
"spattermites", "cauleflower" e "grapefruit"(Hill &
Forte, 1983).
O termo "Coralóide" estende-se desde
pequenas formas nodulares a grandes massas em
forma de gárgulas de até um metro de diâmetro.
Coralóides nodulares de forma arredondada exibem
anéis de crescimento concêntricos, nos quais os
cristais são perpendiculares aos anéis e radiais à
envoltória do nódulo. Estas camadas concêntricas
podem estar marcadas por diferentes cores, brilho,
tamanho do cristal, ou composição.
De muitos nomes somente coralóides é
apropriado como nome deste tipo de (espeleotema)
formação (Salzer, 1954, in Bogli, 1980).
Os coralóides podem assumir uma variedade
de formas interessantes dependendo do
microambiente em que se formam ou estão se
formando.
Os coralóides podem se desenvolver em
ambientes subaéreos ou subaquáticos ou ainda pela
intermitência destes ambientes devido a variações
sazonais. A distinção entre estes ambientes em que
se formam é muito difícil.
Coralóides que ocorrem associados a geodos,
casca-fina, pérolas, jangadas ou a um grande fluxo
de água relaciona-se a uma origem subaquática.
Coralóides subaquáticos: são os coralóides "mais
bem formados", são uniformemente contornados tais
como couve-flor e cachos de uva. Com a evaporação
de CO2 na superficie de uma piscina a água torna-se
lentamente supersaturada em CaCO3. O precipitado
resultante recobre as bordas da piscina.
Geralmente os coralóides subaquáticos
tendem a ser mais descoloridos do que seus
semelhantes subaéreos. Muitos apresentam tons
claros devido a presença de impurezas na água. A
calcita é talvez o mineral mais comum que compõe
os coralóides subaquosos.
Já os situados em áreas de gotejamento,
respingamento ou escorrimento de água, são
relacionados a origem subaérea. Os coralóides
subaéreos desenvolvem uma porosidade maior do
que os subaquáticos. Coralóides subaéreos
normalmente apresentam-se em formas nodulares,
cachos de uva, corais e pipocas e se formam devido
a vários mecanismos de deposição:
ANAIS do 24º Congresso Brasileiro de Espeleologia
Ouro Preto MG, 11-13 de julho de 1997 - Sociedade Brasileira de Espeleologia
------------------------------------------------------------------------------------ --------------------------------------------------------------------------------------
www.cavernas.org.br sbe@cavernas.org.br
50
por infiltração de água através da rocha e da
estrutura do próprio coralóide;
por finos filmes de fluxo de água sobre
superfícies irregulares;
por borrifação de soluções gotejantes;
por movimento ascendente de soluções, em
piscinas, nas paredes, por capilaridade;
por condensação da solução.
Os processos que atuam na formação dos
coralóides estão diretamente relacionados a posição
em que estão se desenvolvendo, desta forma um ou
mais mecanismos podem atuar na sua formação. A
infiltração talvez seja o processo mais comum de
formação e o que na maioria das vezes, é o que
melhor explica a formação dos coralóides
subaéreos.
Moore (1952) observa que a evaporação, em
primeiro plano, é o que implica no surgimento de
água por capilaridade.
METODOLOGIA DE ESTUDO
Os estudos tiveram início em setembro de
1992 e prosseguiram até os dias atuais. Estes estão
divididos nas seguintes fases:
FASE 1: Descrição de campo, fotografia e coleta de
amostras;
FASE 2: Estudo da seção (o espeleotema foi
seccionado) macroscopicamente utilizando
lupa petrográfica estereoscópica;
FASE 3: Confecção de lâminas delgadas para o
estudo microscópico;
FASE 4: Levantamento bibliográfico dos trabalhos
que mencionam a ocorrência e formação do
coralóides.
A amostragem e descrição dos coralóides
foram realizadas na Gruta Tamboril, Unai, Minas
Gerais, onde há uma grande ocorrência destes
espeleotemas ao longo de grande parte da caverna,
onde se pode observar toda a sua evolução
morfológica. Foram realizadas fotos em -slides" que
mostram esta evolução. Ocorrem botrioidais sobre
os espeleotemas no teto, no chão e nas paredes. Em
locais onde houve grandes abatimentos de blocos
estes se encontram recobertos por escorrimentos,
soldados uns nos outros, há uma intensa propagação
de coralóides. Há ainda áreas em que demarcam
inundação, denotando a origem subaquática.
A ocorrência dos botrioidais na Gruta
Tamboril, hoje, denota a sua franca atividade. O
gotejamento intenso sobre áreas recobertas por
coralóides arborecentes (couve-flor) favorece a
borrifação da solução gotejante sobre os mesmos
causando o recobrimento em camadas concêntricas
de cristais que podem ser vistos a olho nú. Estas
camadas trazem consigo registros de variações
sazonais, denotadas pela variação da coloração
devido a presença de óxidos e argilo-minerais.
Coralóides formados sob condições subaéreas são
usualmente pequenos e em forma de nódulos,
quando são subaquáticos tendem a ser grandes e são
muito uniformemente contornados.
Hoje, sabe-se que a maioria dos coralóides
são depósitos subaéreos; eles morfologicamente
relembram os subaquáticos.
ANÁLISE MICROSCÓPICA
Os coralóides botrioidais se desenvolvem em
camadas concêntricas cristalinas ou
microcristalinas, quando cristalinas os cristais são
prismáticos alongados (aciculares). Às bandas,
muitas vezes são conferidos diferentes tons de cores,
como o amarelo devido a presença de íons de ferro.
É comum encontrar minerais detríticos entre o
bandamento e até mesmo recristalização de minerais
que interceptam o bandamento do espeleotema.
Analisando com mais detalhe, observamos
que o coralóides apresentam porosidade em
praticamente todas as fases de crescimento. Esta
porosidade foi observada devido a utilização de
corante azul na confecção das lâminas delgadas.
Foram observados núcleos com bandamento
concêntrico contendo grãos de material detrítico e
ainda material recristalizado intersectando o
bandamento. Há regiões da lâmina em que os
núcleos não apresentam porosidade. As camadas
mais externas a estes núcleos muitas vezes não
possuem porosidade e constituem uma massa
cristalina muito fina. Bordejando estes núcleos
ocorrem regiões de coloração mais amarelada
devido a presença de óxidos e material detritico. O
material detrítico é anédrico e pode estar
relacionado ao respingamento causado pelo
gotejamento em áreas adjacentes, ou até mesmo a
inundações periódicas.
O recobrimento mais externo é feito em
camadas concêntricas de cristais prismáticos
alongados (aciculares) com baixa porosidade entre
as bandas e os cristais. Nestas bandas mais externas
------------------------------------------------------------------------------------ --------------------------------------------------------------------------------------
www.cavernas.org.br sbe@cavernas.org.b
ANAIS do 24º Congresso Brasileiro de Espeleologia
Ouro Preto MG, 11-13 de julho de 1997 - Sociedade Brasileira de Espeleologia
------------------------------------------------------------------------------------ --------------------------------------------------------------------------------------
www.cavernas.org.br sbe@cavernas.org.br
51
encontram-se pouco material detritico apesar de
uma cristalização mais nítida em forma radial e com
poucas impurezas. Muitas vezes os cristais estão
dispostos em feixes divergentes.
MODELO
Com base em análises bibliográficas,
macroscópicas e micoroscópicas foi possível separar
fases de evolução que demarcam processos e
mudanças das características do ambiente de
precipitação química, refletindo as mudanças
morfologicas do espeleotema (Fig.1).
A primeira fase está associada a formação de
núcleos por exsudação onde na maioria das vezes
não é possível observar qualquer estrutura, podendo
este ser um monocristal, formado por uma lenta
cristalização ou um agregado microcristalino
(Fig.1A).
A segunda fase ocorre com o recobrimento
dos núcleos na forma de camadas concêntricas de
microcristais, não observáveis a olho nú. Nesta fase
o espeleotema assume uma nova forma. Ë um
recobrimento que pode ser devido à infiltração
intersticial ou ao respingamento devido ao
gotejamento local (Fig. 1B).
Na terceira fase o recobrimento perde sua
característica de concentricidade e a sedimentação
detrítica ocorre juntamente com a sedimentação
química, aparecendo novos tons de cores devido a
contribuição de argilo-minerais e óxidos. Esta fase
também pode estar relacionada a inundação, devido
a grande contribuição de material detrítico (Fig.
1C).
A última fase de recobrimento, a mais
externa, ocorre nitidamente em camadas
concêntricas com cristais aciculares com
crescimento radialmente à envoltória do
espeleotema. O tamanho dos cristais reflete uma
cristalização mais lenta, que pode estar associada a
uma recristalização, um rearranjo apesar de que
estes tenham sua origem relacionada ao
respingamento (borrifação) ou até mesmo a uma
origem subaquática devido a sua pureza (Fig. 1D).
ANAIS do 24º Congresso Brasileiro de Espeleologia
Ouro Preto MG, 11-13 de julho de 1997 - Sociedade Brasileira de Espeleologia
------------------------------------------------------------------------------------ --------------------------------------------------------------------------------------
www.cavernas.org.br sbe@cavernas.org.br
52
CONCLUSÕES
O terreno coralóide engloba formações dos
tipos nodulares, globulares, botrioidais e coralóides,
p.d.
O ambiente de formação dos coralóides pode
ser subaéreo, subaquático ou combinação dos dois.
Os coralóides de origem subaérea são
usualmente pequenos em formas de nódulos
irregulares, enquanto os subaquáticos tendem a ser
maiores e uniformemente contornados.
O coralóide estudado apresenta duas etapas
distintas de formação. A primeira mostra o
crescimento de "dentro para fora" (exsudação e
infiltração intersticial) e a segunda mostra que o
crescimento do mesmo foi de fora para dentro, isto
é, a precipitação ocorreu devido a inundação
(subaquática) e depois o respingamento.
As fases 1 e 2, que caracterizam o
crescimento de "dentro para fora", apresentam
contornos irregulares, enquanto as fases 3 e 4, que
caracterizam o crescimento de "fora para dentro"
apresentam contornos arredondados, suavizando as
irregularidades.
Compartilhado por: Isamara F.
Comentários